A época em que
vivemos poderá ser conhecida como o período da Revolução das Comunicações. Há
trinta anos, cinco agências de notícias dominavam praticamente todo o
noticiário internacional e os veículos de comunicação eram televisão, jornal e
rádio. Uma pessoa para “ter assunto” precisava de contato cotidiano com
estes veículos, uma pessoa para “ser assunto” precisava integrar uma estreita
elite da economia, política, esportes, cultura, televisão. As próprias
residências refletiam uma hierarquia que desapareceu: o principal cômodo da
casa era a sala, cujos móveis convergiam diretamente para a tevê. Ali se
reunia a família, todos os dias, para ver novela, então um programa feminino;
futebol, sendo que a tevê tinha que se adequar ao horário do jogo; ou um filme
que havia passado nos cinemas há muitos anos.
Foram muitas
mudanças em pouco tempo. Hoje é comum que produções cinematográficas estreiem
simultaneamente na telona e na telinha, toda a programação esportiva obedeça às
regras da tevê, as novelas reúnam as mais diferentes faixas da população, os
quartos das casas até possuam tevê, ainda que ela esteja longe de ser o
principal veículo de comunicação. Para ter ou para ser assunto só é preciso que
nos conectemos à internet para o que basta o celular. Ficam simplesmente
excluídos das conversas os poucos sem conexão, enquanto as fontes de informação
são centenas de milhões.
Rádio, jornal e
tevê vivem profunda crise. Obsecados pela imagem, a qual estrangulou o espaço
do texto, os veículos de imprensa perdem-se em inglória tentativa de reproduzir
o padrão da internet: notícias superficiais, curtíssimas. Há, no entanto, um
espaço ainda pouco explorado para reportagens e análises. Se parece tão atual o
questionamento de Caetano de quarenta nos atrás – “quem lê tanta notícia?” –
nada mais relevante que a crônica do cotidiano sobre a realidade próxima, a
análise das notícias que abalam a todos.
Sempre, é claro,
com qualidade. Com tantas fontes, não há mais espaço para o forte
direcionamento ideológico que se tinha antes, mas a relação entre os fatos, o
descortinar da superficialidade e dos interesses por trás das matérias, o
acolhimento à diversidade de opiniões são desafios que precisam ser enfrentados
decisivamente.
O mesmo olhar
diferenciado para o cotidiano que caracterizam o fotógrafo, o filósofo e o
artista é o maior instrumento para o jornalismo em nossos dias. A ligação
institucional com a comunidade, com as bandeiras de melhoria da cidade, o
equilíbrio entre revisar e acolher o ponto de vista do leitor, na redação de cada notícia, são os instrumentos que dão ao jornalismo
regional a originalidade que nenhum outro veículo possui. Por isso, por ocasião
dos parabéns ao Jornal, merecem congratulações especiais os leitores que se manifestam, os editores que garantem espaço
ao seu ponto de vista e, muito especialmente, os jornalistas que buscam, todos
os dias, a identificação e a contribuição com a formação de um cidadão crítico,
participativo e consciente de sua importância para a coletividade.
(Reflexão produzida para a ocasião dos 120 anos do jornal A Tribuna)
Maurício de Araújo
Zomignani é assistente social. E-mail:mauzomi@ig.com.br