Nem terminaram
as manifestações de desempregados na Espanha, ou a chamada “Primavera Árabe”,
nas quais milhares de jovens foram às praças, tal movimento se repetiu na
Ucrânia, sempre temperado com um desejo de mudança rumo a uma democracia real.
Ao militante
político brasileiro é paradoxal o sentimento de já ter passado por isso e, ao
mesmo tempo, de ser tudo muito novo. Na reação ao golpe militar, lutava-se pela
liberdade de organização e manifestação, pelo direito de votar para governador,
pela anistia, por uma assembléia nacional constituinte, por eleições diretas
para presidente, depois pelo empeachment do presidente. Em meio a
tudo isso, estruturamos políticas sociais universais, estatais, municipalizadas
e participativas, em áreas como: Saúde, Criança e Adolescente, Educação,
Assistência Social, Idoso.
Foram importantes
conquistas. A mais importante delas foi a escola de protagonismo sócio-político
que todas as lutas representaram a milhares de brasileiros a partir de sindicatos,
centros acadêmicos, comunidades de base, movimentos populares, organizações não
governamentais, partidos políticos, com marcante rivalidade sobre qual destas
instituições propiciaria melhor formação aos militantes, maior transformação ao
país.
Com o
pluripartidarismo e a absorção das lideranças pelas estruturas de poder acirrando
a competição entre as organizações, culminando com as centenas de manifestações
de jovens ocorridas em 2013, ficou claro que nenhuma das instituições geradas
nessas décadas de lutas mostra-se capaz de liderar a vontade de mudança. Ao
contrário, as manifestações mostram-se contrárias a governos, denunciam a
insuficiência de políticas públicas, rechaçam sindicatos e partidos políticos.
Será o fim
da democracia representativa? A democracia direta praticada nas manifestações é
uma das mais caras bandeiras do anarquismo, mas nem os mais radicais
anarquistas vislumbram uma forma de organização do Estado que consiga
prescindir da Democracia Representativa já para coletividades municipais, que
dirá para estados e para o país.
Para sairmos
do impasse, cabe-nos questionar. Que acontecerá com as instituições que não se revirem
dentro do quadro atual? Haveria viabilidade, pelo menos entre as lideranças
mais maduras e conscientes do momento, de estabelecermos novas relações entre
as múltiplas instâncias participativas e com toda a sociedade?
Entendemos
que aqueles que conseguirem se situar ao largo das encarniçadas disputas
eleitorais, para muito além da bárbara, terrorista e irresponsável guerra pela
internet, devem, neste momento, propor a construção de um sistema de
cooperação, uma Política Pública de Transparência, Participação e Controle
Social, aos moldes das demais políticas públicas criadas pós Constituição de
1988. Com isso, estarão propondo um resgate transformador das instituições, que
revigorará a cidadania e ampliará o controle sobre as instituições
democráticas, absorvendo e direcionando grande parte do desejo de mudança que
atinge toda a sociedade.
Maurício de
Araujo Zomignani é assistente social e membro do Fórum da Cidadania de Santos.
E-mail: mauzomi@ig.com.br
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