domingo, 16 de março de 2014

PARA IR ALÉM DAS MANIFESTAÇÕES


Nem terminaram as manifestações de desempregados na Espanha, ou a chamada “Primavera Árabe”, nas quais milhares de jovens foram às praças, tal movimento se repetiu na Ucrânia, sempre temperado com um desejo de mudança rumo a uma democracia real.

Ao militante político brasileiro é paradoxal o sentimento de já ter passado por isso e, ao mesmo tempo, de ser tudo muito novo. Na reação ao golpe militar, lutava-se pela liberdade de organização e manifestação, pelo direito de votar para governador, pela anistia, por uma assembléia nacional constituinte, por eleições diretas para presidente, depois pelo  empeachment do presidente. Em meio a tudo isso, estruturamos políticas sociais universais, estatais, municipalizadas e participativas, em áreas como: Saúde, Criança e Adolescente, Educação, Assistência Social, Idoso.

Foram importantes conquistas. A mais importante delas foi a escola de protagonismo sócio-político que todas as lutas representaram a milhares de brasileiros a partir de sindicatos, centros acadêmicos, comunidades de base, movimentos populares, organizações não governamentais, partidos políticos, com marcante rivalidade sobre qual destas instituições propiciaria melhor formação aos militantes, maior transformação ao país.

Com o pluripartidarismo e a absorção das lideranças pelas estruturas de poder acirrando a competição entre as organizações, culminando com as centenas de manifestações de jovens ocorridas em 2013, ficou claro que nenhuma das instituições geradas nessas décadas de lutas mostra-se capaz de liderar a vontade de mudança. Ao contrário, as manifestações mostram-se contrárias a governos, denunciam a insuficiência de políticas públicas, rechaçam sindicatos e partidos políticos.

Será o fim da democracia representativa? A democracia direta praticada nas manifestações é uma das mais caras bandeiras do anarquismo, mas nem os mais radicais anarquistas vislumbram uma forma de organização do Estado que consiga prescindir da Democracia Representativa já para coletividades municipais, que dirá para estados e para o país.

Para sairmos do impasse, cabe-nos questionar. Que acontecerá com as instituições que não se revirem dentro do quadro atual? Haveria viabilidade, pelo menos entre as lideranças mais maduras e conscientes do momento, de estabelecermos novas relações entre as múltiplas instâncias participativas e com toda a sociedade?

Entendemos que aqueles que conseguirem se situar ao largo das encarniçadas disputas eleitorais, para muito além da bárbara, terrorista e irresponsável guerra pela internet, devem, neste momento, propor a construção de um sistema de cooperação, uma Política Pública de Transparência, Participação e Controle Social, aos moldes das demais políticas públicas criadas pós Constituição de 1988. Com isso, estarão propondo um resgate transformador das instituições, que revigorará a cidadania e ampliará o controle sobre as instituições democráticas, absorvendo e direcionando grande parte do desejo de mudança que atinge toda a sociedade.

Maurício de Araujo Zomignani é assistente social e membro do Fórum da Cidadania de Santos. E-mail: mauzomi@ig.com.br

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