Meados dos anos
70 e os estúdios Hanna Barbera apresentaram uma série de desenho animado
reunindo personagens, como: Pepe Legal, Dom Pixote, Pop pai e Pop filho, Leão
da Montanha, Zé Colméia e Catatau. Chamava-se a Arca do Zé Colméia e o enredo
girava em torno de viagens realizadas pela turma, que passava o tempo olhando a
paisagem e se divertindo numa arca de Noé que voava, exceção ao personagem
Maguila, um enorme gorila que ficava o tempo todo no porão. Ocorre que a embarcação
toda se movimentava através de uma hélice cujo motor era uma esteira rolante,
sobre a qual ficava o gorila, tendo à sua frente um vistoso cacho de bananas
que, buscado e jamais alcançado, fazia mover toda a engrenagem.
Para além da
diversão, o desenho ajuda a pensar o funcionamento da sociedade, ainda mais em
tempos de rolezinho, fenômeno social no
qual jovens da periferia de São Paulo têm invadido às centenas shopping centers
de luxo causando pavor a consumidores, lojistas e preocupação à Segurança
Pública. É claro que eles têm que se preocupar: como poderiam se sentir os
personagens do desenho se, de repente, o Maguila simplesmente subisse ao convés?
No desenho, isso jamais aconteceu.
Mas o
Maguila somos nós. As bananas, é claro, são a felicidade que nos é prometida
através do consumo mas, assim como o motor à gasolina é chamado de motor à
explosão por ser através da explosão controlada que é gerada a energia, o que
move a sociedade é um motor à insatisfação. Nós movimentamos toda a sociedade
pelo consumo, o qual, centrado apenas nas necessidades objetivas dos seres
humanos, logo se percebeu, não seria suficiente para movimentar a ganância dos
personagens sociais que querem viajar e divertir-se apropriando-se do
sacrifício da massa de Maguilas. Foi assim que surgiu a necessidade da
propaganda, que incute permanentemente novas necessidades, e a obsolescência programada.
A obsolescência programada
é uma estratégia de mercado surgida nos países capitalistas nas décadas de 1930 e 1940 que
visa garantir um consumo constante através da insatisfação, de forma que os
produtos que satisfazem as necessidades daqueles que os compram parem de
funcionar ou tornem-se obsoletos em um curto espaço de tempo, tendo que ser
obrigatoriamente substituídos de tempos em tempos por mais modernos.
Acontece que os magos da manipulação das
massas não conseguiram prever o óbvio. Se durante séculos nós Maguilas,
hipnotizados pelas bananas, nada mais conseguimos fazer senão correr atrás
delas, a revolução da comunicação ocorrida nas últimas décadas, e o acúmulo de
insatisfação, tem gerado gorilas que estão resolvendo descer da esteira
rolante, pegar o cacho inteiro e invadir o andar superior para curtir a
paisagem, não importa o que aconteça com a Arca.
por Maurício de Araújo Zomignani em Janeiro de 2014