“A espiral
de violência vem aumentando. Estou preocupada com o que possa vir a acontecer
no ano que vem” Esther
Solano Gallego, pesquisadora espanhola.
Significativo que institutos de
pesquisas, imprensa e população preocupe-se tanto em se declarar a favor da
redução da maioridade penal (92.7%), das manifestações (81,7 %) e contra as
ações dos grupos que promovem depredações nas
ruas brasileiras (93,4% -
segundo pesquisas CNT/ DNA recentes). Nessa mesma linha têm se posicionado o Ministro
da Justiça e o Governador de São Paulo, defendendo a adoção de ações de
repressão e leis mais duras.
A autora da frase que encabeça esse
artigo, no entanto, é pesquisadora, professora da Universidade Federal de São
Paulo (UNIFESP) e resolveu ir mais fundo. Após doutorar-se em ciências sociais
veio ao Brasil em 2011 e, desde junho de 2013 foi às ruas, primeiro como
manifestante, depois para entrevistar 30 jovens de diferentes grupos que usam
táticas black blocs, para procurar entender suas motivações.
A vivência com esses grupos e as
medidas duras anunciadas pelas autoridades, fizeram com que declarasse que “o
problema será entrar numa dinâmica de ação-reação violenta na qual as posturas
dos dois lados endureçam”. Ao invés de ser contra ou a favor, ou de propor repressão,
ela entende que “vale a pena perguntar por que esses jovens chegaram ao ponto
de enxergar na violência a única forma de ser escutados”.
Não é difícil constatar um imenso vazio
onde deveria haver ações voltadas à juventude. A política de esporte, mesmo
diante dos megaeventos que iremos sediar, volta-se aos que alcançaram o alto
rendimento, com enormes sacrifícios, promovendo raras e dispersas ações
voltadas ao trabalho de base. Os programas culturais oferecem oficinas
extremamente elitizadas tanto nas temáticas quanto na própria localização dos
serviços. A educação, a par do discurso em defesa da cidadania, impõe
regimentos, gestões e punições sem o mínimo espaço para manifestação dos
jovens. O desemprego nesta faixa é o triplo da média, os grupos de jovens de
igrejas e clubes de servir são, quase sempre, dirigidos pela lógica dos adultos.
Não podemos oferecer à juventude apenas
autoritarismo, leis mais duras e repressão – ainda que esta, sem dúvida, seja
necessária para coibir os excessos – como fosse possível apagar um incêndio com
baldes de gasolina. Passou do tempo da sociedade e governos articularem
programas voltados às reais demandas da juventude integrados numa Política de
Atendimento baseada no protagonismo infanto-juvenil.
O oferecimento de alternativas e o
apoio àquelas formuladas pelos jovens são fundamentais para a destinação
efetiva da tremenda energia realizadora e transformadora própria da juventude. Lembremos
dos terríveis acidentes com panelas de pressão com válvula entupida, mas também
que a revolução industrial aconteceu devido às maravilhas do motor à vapor.
O ano que vem terá dois alvos
preferenciais anunciados pelos black blocs: Copa do Mundo e Eleições. Investiremos em uma
Política de Atenção à Juventude ou apenas em repressão?
por
Maurício de Araújo Zomignani em Novembro de 2013
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