segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

VIOLÊNCIA JUVENIL OU VIOLÊNCIA ESTATAL?

“A espiral de violência vem aumentando. Estou preocupada com o que possa vir a acontecer no ano que vem” Esther Solano Gallego, pesquisadora espanhola.

Significativo que institutos de pesquisas, imprensa e população preocupe-se tanto em se declarar a favor da redução da maioridade penal (92.7%), das manifestações (81,7 %) e contra as ações dos grupos que promovem depredações nas ruas brasileiras (93,4% - segundo pesquisas CNT/ DNA recentes). Nessa mesma linha têm se posicionado o Ministro da Justiça e o Governador de São Paulo, defendendo a adoção de ações de repressão e leis mais duras.

A autora da frase que encabeça esse artigo, no entanto, é pesquisadora, professora da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e resolveu ir mais fundo. Após doutorar-se em ciências sociais veio ao Brasil em 2011 e, desde junho de 2013 foi às ruas, primeiro como manifestante, depois para entrevistar 30 jovens de diferentes grupos que usam táticas black blocs, para procurar entender suas motivações.

A vivência com esses grupos e as medidas duras anunciadas pelas autoridades, fizeram com que declarasse que “o problema será entrar numa dinâmica de ação-reação violenta na qual as posturas dos dois lados endureçam”. Ao invés de ser contra ou a favor, ou de propor repressão, ela entende que “vale a pena perguntar por que esses jovens chegaram ao ponto de enxergar na violência a única forma de ser escutados”.

Não é difícil constatar um imenso vazio onde deveria haver ações voltadas à juventude. A política de esporte, mesmo diante dos megaeventos que iremos sediar, volta-se aos que alcançaram o alto rendimento, com enormes sacrifícios, promovendo raras e dispersas ações voltadas ao trabalho de base. Os programas culturais oferecem oficinas extremamente elitizadas tanto nas temáticas quanto na própria localização dos serviços. A educação, a par do discurso em defesa da cidadania, impõe regimentos, gestões e punições sem o mínimo espaço para manifestação dos jovens. O desemprego nesta faixa é o triplo da média, os grupos de jovens de igrejas e clubes de servir são, quase sempre, dirigidos pela lógica dos adultos.

Não podemos oferecer à juventude apenas autoritarismo, leis mais duras e repressão – ainda que esta, sem dúvida, seja necessária para coibir os excessos – como fosse possível apagar um incêndio com baldes de gasolina. Passou do tempo da sociedade e governos articularem programas voltados às reais demandas da juventude integrados numa Política de Atendimento baseada no protagonismo infanto-juvenil.
O oferecimento de alternativas e o apoio àquelas formuladas pelos jovens são fundamentais para a destinação efetiva da tremenda energia realizadora e transformadora própria da juventude. Lembremos dos terríveis acidentes com panelas de pressão com válvula entupida, mas também que a revolução industrial aconteceu devido às maravilhas do motor à vapor.

O ano que vem terá dois alvos preferenciais anunciados pelos black blocs: Copa do Mundo e Eleições. Investiremos em uma Política de Atenção à Juventude ou apenas em repressão?

por Maurício de Araújo Zomignani em Novembro de 2013 

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