Assim foi com a China. Derrotado o comunismo na economia, os
chineses implantaram o ultracapitalismo minimizando custos e maximizando vendas,
invadindo o mundo não apenas com produtos baratos, mas com a devastação dos
direitos trabalhistas e do meio ambiente que os viabiliza – fatores básicos à industrialização
da Europa e Estados Unidos. Mas há outro espelho de aumento para nossa
sociedade, ainda mais radical e dramático, que também evidencia fragilidades e
contradições.
Produtos cada vez mais baratos e eficientes que fidelizam os
clientes imediatamente. O tráfico de drogas vem alcançando o que as indústrias mais
buscam. Saúde? Que importa para a indústria de refrigerantes, alimentos, veículos,
petróleo, armamentos, energéticos, alcoólicos, fumo e, paradoxalmente, de
remédios? Meio Ambiente? Qual segmento realmente se preocupa com o impacto
ambiental de suas fábricas e produtos?
Será que essa ultra realização das utopias materialistas com
desumanização e morte não veio para ajudar a humanidade a se rever, ultrapassando
as máscaras das leis, campanhas e instituições que promovem comportamentos sem
a menor pretensão de cumpri-los? É urgente compreender os fatos que vivemos
como sintomas, nossos sintomas. Se, por um lado, empregos e direitos são boicotados
por uma estratégia sócio-econômica selvagem, por outro vimos convivendo com a
pior face das drogas, a morte. Mas a morte física nos falam de mortes maiores.
Desprezando a busca por sintomas mais profundos, governos e
pessoas buscam o conflito morte com morte. E não me refiro apenas à guerra das
polícias com o crime organizado, na qual o circulo de vinganças mútuas
aterroriza a sociedade. Também no campo do tratamento, a idéia é a mesma. A
internação compulsória como medida isolada traz consigo um erro que atravessa
outras formas de tratamento, pois combate a morte objetiva com a morte
subjetiva desprezando a vontade própria. Mata-se, assim, a galinha dos ovos de
ouro, e a alegria de comer sua carne dura muito pouco.
Para as drogas, a solução está em reservar o tratamento compulsório
para casos terminais e mulheres grávidas, não em busca de cura, mas de
sobrevida e redução de danos. Antes disso, e mesmo nessas hipóteses, é preciso
ter claro que a vontade própria é preciosa e precisa ser não apenas preservada,
mas estimulada, por ser o grande fator definidor de sucesso em todos os
tratamentos. Tudo o que representa vida precisa ser mobilizado para motivação
dos doentes. Esporte, Arte, Religiões e famílias precisam ir para as ruas, e
não apenas consultórios médicos.
Na parábola cristã, o filho retornou mesmo muito magro,
doente, em farrapos. O outro filho também se entregou à desumanização,
reivindicando dureza e punição. O pai, no entanto, não se fechou na tradição. É
um absurdo que serviços exijam agendamentos
e documentos frente àqueles que ainda buscam a vida. Como o pai da parábola,
precisamos ir às ruas com os melhores recursos e, principalmente, com alegria e
carinho.
por
Maurício de Araújo Zomignani em Abril de 2013
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