segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

DROGAS: SÓ VIDA COM VIDA

Assim foi com a China. Derrotado o comunismo na economia, os chineses implantaram o ultracapitalismo minimizando custos e maximizando vendas, invadindo o mundo não apenas com produtos baratos, mas com a devastação dos direitos trabalhistas e do meio ambiente que os viabiliza – fatores básicos à industrialização da Europa e Estados Unidos. Mas há outro espelho de aumento para nossa sociedade, ainda mais radical e dramático, que também evidencia fragilidades e contradições.

Produtos cada vez mais baratos e eficientes que fidelizam os clientes imediatamente. O tráfico de drogas vem alcançando o que as indústrias mais buscam. Saúde? Que importa para a indústria de refrigerantes, alimentos, veículos, petróleo, armamentos, energéticos, alcoólicos, fumo e, paradoxalmente, de remédios? Meio Ambiente? Qual segmento realmente se preocupa com o impacto ambiental de suas fábricas e produtos?

Será que essa ultra realização das utopias materialistas com desumanização e morte não veio para ajudar a humanidade a se rever, ultrapassando as máscaras das leis, campanhas e instituições que promovem comportamentos sem a menor pretensão de cumpri-los? É urgente compreender os fatos que vivemos como sintomas, nossos sintomas. Se, por um lado, empregos e direitos são boicotados por uma estratégia sócio-econômica selvagem, por outro vimos convivendo com a pior face das drogas, a morte. Mas a morte física nos falam de mortes maiores.

Desprezando a busca por sintomas mais profundos, governos e pessoas buscam o conflito morte com morte. E não me refiro apenas à guerra das polícias com o crime organizado, na qual o circulo de vinganças mútuas aterroriza a sociedade. Também no campo do tratamento, a idéia é a mesma. A internação compulsória como medida isolada traz consigo um erro que atravessa outras formas de tratamento, pois combate a morte objetiva com a morte subjetiva desprezando a vontade própria. Mata-se, assim, a galinha dos ovos de ouro, e a alegria de comer sua carne dura muito pouco.

Para as drogas, a solução está em reservar o tratamento compulsório para casos terminais e mulheres grávidas, não em busca de cura, mas de sobrevida e redução de danos. Antes disso, e mesmo nessas hipóteses, é preciso ter claro que a vontade própria é preciosa e precisa ser não apenas preservada, mas estimulada, por ser o grande fator definidor de sucesso em todos os tratamentos. Tudo o que representa vida precisa ser mobilizado para motivação dos doentes. Esporte, Arte, Religiões e famílias precisam ir para as ruas, e não apenas consultórios médicos.

Na parábola cristã, o filho retornou mesmo muito magro, doente, em farrapos. O outro filho também se entregou à desumanização, reivindicando dureza e punição. O pai, no entanto, não se fechou na tradição. É um absurdo que serviços exijam  agendamentos e documentos frente àqueles que ainda buscam a vida. Como o pai da parábola, precisamos ir às ruas com os melhores recursos e, principalmente, com alegria e carinho.  

por Maurício de Araújo Zomignani em Abril de 2013 

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