Trabalhadores há por todo lado. Muitos cumprem funções sem
refletir, trabalham rendidos à lógica do dinheiro, esmagados por vidas caras e baixos
salários, incapacitados à vida simple. Tristes escravos. Alguns, porém, não se
deixam acorrentar a tarefas, aprisionar a importâncias não reconhecidas, chicotear
por salários infames, mas permanecem centrados nas lições que toda atividade oferece.
Se o verdadeiro valor do trabalho fosse o aprendizado consciente, quantos
receberiam salários?
Estudantes também há de todo jeito. Tantos realizam tarefas pensando
nos colegas, namoradas, brincadeiras. Uns estudam para a autoexaltação e
tornam-se violência seja como vitoriosos que impingem humilhação, seja como derrotados
que distribuem agressão. Animais mal adestrados. Mas há estudantes que não festejam
recompensas, nem se deprimem com punições, atendo-se às tarefas como ensaios
para missões mais importantes. Se o verdadeiro sucesso escolar fosse essa superação,
quantos passariam de ano?
Reis, no entanto, são iguais. À frente de tesouros e poderes,
atrás de castelos e exércitos, quase todos tramam, traem, matam. Obcecados pelo
poder, dinheiro e reconhecimento, nada podem admitir que tire, apenas que acrescente,
enxergando ameaças em qualquer movimento. Símbolos da inércia e da reação, reis
de todos os regimes estão longe de ser os únicos capazes de tudo para evitar
mudanças. Todos, em algum momento de suas vidas, serão vistos agarrados a riquezas
e poderes, atacando seres reais ou imaginários que lhes querem usurpar ilusões.
Ao final das vidas, quantos ricos possuirão riquezas, quantos poderosos terão
poder?
Homens e mulheres comuns também são limitados. Desejam ardentemente
cumprir papéis, imitar virtudes da matéria e do orgulho. Antes virgindade e
potência, hoje beleza e celebridade são perseguidos a qualquer custo. A defesa
de sucessos e belezas destinados a acabar, com a doença e a velhice, situa
todos numa batalha perdida. Passados milhares de anos, quem são os célebres, apodrecidos
os corpos onde estará a beleza?
Naquela noite, os melhores se uniram numa estrebaria. Estudantes
que olhavam as coisas da terra e enxergavam as do céu viram luz e foram
guiados. Trabalhadores que cuidavam e orientavam, perceberam instruções do
espírito e foram ao melhor lugar da terra. Um homem submetera-se ao sonho, ultrapassando
as conveniências, afastando-se do erro. Uma mulher vencera convenções, submetendo
interesses ao Senhor, abrindo-se à luz. Fugiam do rei que, apavorado com o
nascimento da transformação, matara centenas de bebês.
Como crianças que escolhem heróis para brincar, é preciso adotar
modelos para crescer. Potencialmente, somos todos magos, pastores, marias,
josés e herodes. Quem escolheremos?
No fundo da estrebaria, ele é o personagem menor e mais
importante – os menores na terra seriam os maiores no céu. Simboliza o
sacrifício de orgulho, inércias e violências. O ato de dar a luz. Deixemos, também
nós, de dentro desses seres inchados, nascer o ser brilhante, destinado à
transformação que jaz, desprezado, nas manjedouras.
por
Maurício de Araújo Zomignani em Dezembro de 2012
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