segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

NESSE NATAL, DÊ A LUZ

Trabalhadores há por todo lado. Muitos cumprem funções sem refletir, trabalham rendidos à lógica do dinheiro, esmagados por vidas caras e baixos salários, incapacitados à vida simple. Tristes escravos. Alguns, porém, não se deixam acorrentar a tarefas, aprisionar a importâncias não reconhecidas, chicotear por salários infames, mas permanecem centrados nas lições que toda atividade oferece. Se o verdadeiro valor do trabalho fosse o aprendizado consciente, quantos receberiam salários?

Estudantes também há de todo jeito. Tantos realizam tarefas pensando nos colegas, namoradas, brincadeiras. Uns estudam para a autoexaltação e tornam-se violência seja como vitoriosos que impingem humilhação, seja como derrotados que distribuem agressão. Animais mal adestrados. Mas há estudantes que não festejam recompensas, nem se deprimem com punições, atendo-se às tarefas como ensaios para missões mais importantes. Se o verdadeiro sucesso escolar fosse essa superação, quantos passariam de ano?

Reis, no entanto, são iguais. À frente de tesouros e poderes, atrás de castelos e exércitos, quase todos tramam, traem, matam. Obcecados pelo poder, dinheiro e reconhecimento, nada podem admitir que tire, apenas que acrescente, enxergando ameaças em qualquer movimento. Símbolos da inércia e da reação, reis de todos os regimes estão longe de ser os únicos capazes de tudo para evitar mudanças. Todos, em algum momento de suas vidas, serão vistos agarrados a riquezas e poderes, atacando seres reais ou imaginários que lhes querem usurpar ilusões. Ao final das vidas, quantos ricos possuirão riquezas, quantos poderosos terão poder?

Homens e mulheres comuns também são limitados. Desejam ardentemente cumprir papéis, imitar virtudes da matéria e do orgulho. Antes virgindade e potência, hoje beleza e celebridade são perseguidos a qualquer custo. A defesa de sucessos e belezas destinados a acabar, com a doença e a velhice, situa todos numa batalha perdida. Passados milhares de anos, quem são os célebres, apodrecidos os corpos onde estará a beleza?

Naquela noite, os melhores se uniram numa estrebaria. Estudantes que olhavam as coisas da terra e enxergavam as do céu viram luz e foram guiados. Trabalhadores que cuidavam e orientavam, perceberam instruções do espírito e foram ao melhor lugar da terra. Um homem submetera-se ao sonho, ultrapassando as conveniências, afastando-se do erro. Uma mulher vencera convenções, submetendo interesses ao Senhor, abrindo-se à luz. Fugiam do rei que, apavorado com o nascimento da transformação, matara centenas de bebês.

Como crianças que escolhem heróis para brincar, é preciso adotar modelos para crescer. Potencialmente, somos todos magos, pastores, marias, josés e herodes. Quem escolheremos?

No fundo da estrebaria, ele é o personagem menor e mais importante – os menores na terra seriam os maiores no céu. Simboliza o sacrifício de orgulho, inércias e violências. O ato de dar a luz. Deixemos, também nós, de dentro desses seres inchados, nascer o ser brilhante, destinado à transformação que jaz, desprezado, nas manjedouras. 

por Maurício de Araújo Zomignani em Dezembro de 2012 

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