Acabo
de desligar a tevê. Primeiro vi o programa de uma jornalista econômica e
convidados analisando a influência das manifestações na conjuntura
econômica. Exercendo meu poder de telespectador,
mudei de canal e assisti o filme “O Artista”, voltando depois ao canal
de notícias a tempo de pegar uma análise da influência do mesmo fenômeno
agora nas eleições presidenciais.
O
filme trata da situação de um artista de sucesso no cinema mudo que
enfrentou enorme crise com a quebra da bolsa de valores de Nova York, na
qual perdeu tudo, e com a mudança da indústria
cinematográfica na introdução do cinema falado. Uma mocinha sem maior
expressão, a quem ele dera espaço como coadjuvante num de seus filmes,
adaptou-se muito bem e tornou-se a estrela do momento, enquanto ele
entrou em decadência pessoal e profissional, passando
a lutar pela própria sobrevivência.
No
momento central do filme a jovem estrela, eufórica com o sucesso, dá
entrevista num restaurante. Sem saber que tem na mesa ao lado o artista
decadente, responde à pergunta do momento:
a que se devem as mudanças? A moça revela achar que as pessoas querem
ouvir sua voz e não mais ver os velhos artistas com suas mímicas pobres.
Diz que o velho deve dar lugar ao novo finalizando, sem maiores
pretensões: “É a vida!”. Ele, então, mostrando-se,
lembra-a que foi ele quem lhe deu oportunidade, o que a faz cair em si
propondo-se então reergue-lo, o que por fim consegue não com a fala nem
com a mudez, mas com a dança.
Nunca
em minha vida de telespectador o exercício da tão limitada liberdade
fez tanto sentido. Em meio a uma crise econômica e a uma mudança de
paradigmas, estava ali colocada a submersão
de figuras antigas, a emersão de novas e a relação entre elas na nova
realidade. Será que a vida vai imitar a arte? Improvável. Mas o que
acontecerá com as figuras políticas que representam o velho sistema
político? Quem irá emergir captando a ânsia pelo novo?
Como não repetir antigas frustrações como a do ex-presidente
aparentemente novo que, embriagado com seu sucesso, mostrou-se pior que
todos os velhos? A ex-ministra que emergiu na política velha, mas que
pode ser identificada com o novo momento buscará aliança
com o velho? A Presidenta, o senador e o governador candidatos
conseguirão ouvir e aprender a dançar a nova música?
De
que adianta, afinal, poder votar, ou mudar de canal, se as alternativas
são ruins? Talvez possamos aprender agora que política é mais do que
eleições, mas é também candidatar-se. Mais
que assistir velhos ou novos personagens com suas mímicas
ultrapassadas, o melhor de tudo será se tivermos pegado gosto por ouvir o
som das nossas vozes protestando, propondo, mudando. Se conseguirmos
mudar a programação – e as equipes de televisão, tanto
quanto os partidos, foram alvos constantes da revolta – como já temos
conseguido, precisaremos aprender a assumir o controle, mesmo que
remoto, e usar nossa inteligência para fazer conexão entre as imagens,
programas e sons para entender e melhorar de verdade
a vida. por Maurício de Araújo Zomignani em Julho de 2013
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