Sempre
que vê uma manifestação pela paz, um amigo questiona: para que servem
passeatas, documentos, cantos, danças, rezas pela paz? Isso irá impedir o
Irã de construir bombas atômicas? Vai sustar o próximo míssil covarde
palestino, o próximo comando assassino israelense? Poderá neutralizar a
indústria armamentista no mundo? Essas atividades desmontarão uma facção
criminosa, evitarão crimes, mudarão a decisão de um agressor
doméstico? Afinal, nós atuamos ou não na construção da paz?
A
visão fragmentária e materialista entende o mundo como um conjunto
caótico de indivíduos livres em encarniçada luta pelo poder e pela
sobrevivência. No entanto, a própria ciência tradicional, toda ela
fragmentária e materialista, já demonstrou que a realidade é um campo
eletromagnético, ou eletroquímico, ou um ecossistema, regida por leis
lógicas, e tão integrada que se uma molécula, uma carga, ou uma espécie
for suprimida, a realidade se alterará. Inconsciente, o homem comum
ainda não percebe que faz parte do meio ambiente, que está em constantes
relações químicas, físicas e biológicas com seu meio, que seu próprio
corpo é um ecossistema e um campo energético complexo.
Quem
só admite o que vê e toca ignora quase tudo o que o envolve. A
eletricidade, a radioatividade, as nanopartículas exercem papel cada vez
mais decisivo em nossas vidas. A Física Quântica deixou clara a
influência do pensamento e da atitude do observador nos eventos e
experimentos, especialmente no mundo subatômico, base de tudo o que
existe na matéria. Tornou-se simplesmente impossível, para quem pensa
racional e cientificamente, acreditar na independência e fragmentação
dos fenômenos.
É
a própria ciência moderna quem nos apresenta como integrantes de um
enorme campo físico-químico-elétrico-magnético-biológico-psicológico no
qual as ações individuais interinfluenciam-se muito mais do que
costumamos crer. Nele, é o ambiente que determina a ação individual e a
exceção é o ser humano consciente, único capaz de, através da vontade,
contrapor-se à tendência apresentada pelo meio. Poderá ele influenciar
decisões, fatos distantes e complexos? Não imediatamente. Mas tem-se
como certo que a mudança de uma parte ao longo de certo tempo alterará o
todo e este, alterado, induzirá nova mudança das partes. Em quanto
tempo? Que alteração se conseguirá? Dependerá
da intensidade da mudança original. “O amor cobre a multidão dos
pecados”, disse e exemplificou Jesus, “se um único homem chega à
plenitude do amor, neutraliza o ódio de milhões” disse e demonstrou
Gandhi.
Sem
esse amor vigoroso, não podemos mesmo alcançar o que eles realizaram,
mas com fração dele podemos propor um movimento e uma ciência da paz.
Cientes de nossa integração com tudo o que existe, seremos capazes de
reconhecer e alterar nossa postura em casa, no trânsito, no trabalho,
começando por atitudes antes insignificantes, como encher uma jarra de
água, servir um café, comentar uma notícia, na certeza de que
impregnaremos tudo o que fizermos e dissermos com energia, contribuindo
com a multiplicação do amor ou do ódio, da violência ou da paz.
por
Maurício de Araújo Zomignani em Março de 2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário