segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

FILHOS: COMO ANDA O SEU AMOR?

É impossível pensar num pai ou mãe que nunca tenha pensado: “por meus filhos, eu faço tudo”.  Isso, aliás, é visto como um grande valor em nossa sociedade, sendo passível de fortes críticas o pai, terríveis condenações a mãe, que emitirem qualquer sinal em contrário. Desligada, negligente, incapaz, “isso não é mãe!”, todos se apressarão a dizer. Os mais sensíveis percebem a existência, desde a concepção, do fantasma da incapacidade que assombra pais e mães. Já na gravidez, vão colecionando conselhos, tais como a indefectível bolinha de linha vermelha na testa para tirar soluço ou, antes disso, o não chupar limão para que a criança não nasça com cara azeda.
Nas providências amenas do dia a dia, esse valor realmente parece funcionar. Emaranhados na guerra de egos que embaralha o trânsito, ambientes de trabalho, condomínios, relações conjugais – parecem reger-se por uma oração na qual dizem “seja feita a minha vontade assim na terra como no céu” – , tal programação mental parece um remédio imprescindível para que as famílias possam dar a devida atenção às crianças.
Conforme as situações concretas surgem, no entanto, percebe-se que tal valor não funciona. “Por meus filhos eu faço tudo” no campo do consumo leva famílias a fazerem absurdos sacrifícios para darem presentes caros a filhos que logo os desprezam, no campo da educação leva pais a fazerem lições para os filhos, a, por toda a vida, encobrir seus erros para que não sofram.
Mas é nas situações críticas que tal valor se mostra mais terrível. O avô de Isabela Nardoni pode ter ajudado seu filho a limpar as manchas de sangue da neta e forjar a versão levada à polícia, o pai do rapaz que atropelou o filho de Ciça Guimarães pode ter pensado em ajudar o filho corrompendo policiais. Emerge, gigantesca, a questão: como ajudar os filhos?
Como populares que, querendo ajudar, pegassem qualquer balde e jogassem ao fogo, só depois vendo, pela explosão, que jogaram combustível, para educar filhos é fundamental que os pais olhem para o que tem dentro de seus próprios baldes, quais são seus valores, sentimentos e experiências nesse campo.
Nesse esforço, é muito provável que profissionais dedicados se descubram pais marcados pela culpa por não darem a atenção que desejariam aos filhos, pelo medo constante causado por um mundo que tem momentos ameaçadores. Sentimentos poderosos, serão responsáveis por entregar aos filhos ferramentas pesadas e tortas com as quais, quando adultos, só conseguirão complicar seus problemas, num novo ciclo de formação de bombeiros incendiários.   
As crianças estão gritando por pais que sejam capazes de acalmá-las e instrumentalizá-las para o diálogo e para a paz. Cada adversidade precisa ser pensada não apenas no imediato – quando então os pais só querem minimizar suas dores -, mas também tendo em vista a autonomização, a formação não dos consumidores tirânicos e frustrados que geramos hoje, mas de seres intelectual, emocional e moralmente integrados, a partir do exemplo de seus próprios pais.

por Maurício de Araújo Zomignani em Abril de 2013 

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