Os cenhos
estavam franzidos. O cinismo dominava os palácios dourados. O ceticismo, a
incredulidade, a desesperança estavam em todos os ambientes. Inúmeras
igrejinhas montadas em cada esquina, em muitas repartições públicas, apenas
para coletar dinheiro. Tudo isso ainda existe, mas agora há esperança. Havemos
jovens.
Guerras e
conflitos, inclusive religiosos, se disseminavam com ou sem sangue na Idade
Média. Apelos sexuais, escândalos econômicos e conveniências mal disfarçadas
denegriam a humanidade. Tudo isso ainda existe. Todos foram chamados à guerra,
mas havia quem desafiasse, não atendesse, não importa se fosse deserdado. Desertou.
Foi um homem só, mas ensinou a paz. Havíamos Francisco.
Hábitos
escuros, sacristias negras, práticas tenebrosas. A luz entra mas para ser
apagada, a criança entra mas para ser violentada. É necessária férrea vontade
para vencer a tristeza, é preciso pura alegria para vencer a inércia. O
materialismo prevaleceu na ciência, o mercantilismo na política, a extorsão, o
abuso e a acomodação na religião. Essencial colocar palácios em segundo plano,
descobrir o mundo que existe para além dos castelos, desencastelar a fé,
libertando-a das conveniências e tradições vazias. Havemos Francisco.
O fogo da
transformação esteve sempre aceso, mas sempre precisou de combustível, algo
para ser transformado, alguém que se dispusesse à transformação. Os jovens
foram para a rua dizendo não à corrupção, o pobrezinho de Assis foi para a rua
dizendo não à violência religiosa, o papa foi para a rua dizendo não à
opulência e à acomodação: cresce a labareda, será fogo de palha? Teremos mudança
real?
Nada ainda
mudou. Líderes políticos e religiosos ainda são exaltados enquanto o bem é humilhado,
governos e igrejas ainda são ricos rodeados de um povo pobre, os dólares estão
nas cuecas, os ouros nos altares, os dízimos nas malas e jatinhos, o
materialismo e o sensorialismo ainda escravizam gostosamente as mentes. E a
violência vai para as ruas mesmo quando a maioria dos jovens, todos franciscos,
apontam para a paz.
Mas a
opinião pública está se formando. Multidões querem política mas não querem esses
partidos. Bilhões buscam o Cristo, mas fogem desses cristãos. Todos querem
mudanças, mas sem essa violência. Desmascaram-se os autoproclamados manifestantes
que buscam o crime, os ditos políticos e juízes que apenas protegem seus
bolsos, os pretensos servidores de Jesus que servem mesmo é ao dinheiro.
Senhores
acomodados e suas grandes barrigas, estufadas de gula, de vaidade, de materialismo
e cinismo: Nós buscamos o essencial, nós temos informação, sabemos o que é
manifestação inteligente e o que é estupidez violenta, o que é o bem comum e o
que é politicagem, o que é o bem profundo e o que é mercantilismo religioso.
Há luz onde
havia trevas, há esperança onde havia desespero. Nós temos esperança. Os cínicos
ainda dirão que esperar não muda nada, mas nós sabemos que sem esperança é que não
existe mudança. A religião e a política verdadeiras estão nas ruas. Estão nas
veias. Estão nas suas?
por
Maurício de Araújo Zomignani em Julho de 2013
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