segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Cérebro e Sexo

É quase impossível investigar o cérebro sem fazer um paralelo com o comportamento sexual humano. Um informe rápido do funcionamento do órgão dirá que ele reparte suas múltiplas funções entre hemisférios, referindo-nos a uma camada de quatro milímetros de espessura chamada córtex, responsável pelas capacidades superiores, que recobre as duas metades. O hemisfério esquerdo é o da razão, mostra-se apto às relações lógicas em lapsos de tempo, separa as totalidades abordando uma parte por vez e concentra-se em cada uma mostrando persistência em acabar o que começou. Já o hemisfério direito, incumbido da criação, trabalha simultaneamente com unidades conjuntas e com coerência, é mais flexível, muda facilmente de plano, mostra-se capaz de fazer associações entre o linguístico e a experiência concreta.
A relação entre os hemisférios é uma ligação densa e nervosa. Curiosamente o hemisfério esquerdo controla a parte direita e o direito controla a parte esquerda do corpo. A associação com o comportamento e com a relação entre os sexos é evidente, mas é importante também perceber a interdependência e a relação não hierarquizada entre ambos – os hemisférios, é claro – pois dizem os estudos que os dois lados cooperam de forma tão grande que, se um deles não funcionar, o outro tem muita dificuldade em aguentar-se. É possível até ampliar a comparação para perceber o quanto um lado tem se habilitado às capacidades do outro – os sexos, é claro – especialmente nas últimas décadas.
Mais ainda, podemos pensar sobre o plano da própria Criação para os sexos. A absoluta necessidade que um tem do outro – e não apenas para a manutenção da espécie, como se vê – para os aspectos mais essenciais da vida, vem se aprofundando com o aprendizado que um proporciona ao outro. Muito mais evidente, porque rumo ao visível e ao tradicionalmente valorizado, tem sido a habilitação da mulher ao competitivo, ao objetivo, ao foco que ela precisou ganhar com saída de casa e a ida ao mercado de trabalho. Apenas agora perceptível, com a valorização atual dos sentimentos e da subjetividade, a conquista masculina do espaço artístico, da intuição, das emoções é fronteira que é preciso transpor, inclusive para que não continuemos a explodir no trânsito, nos estádios, nas casas, nas escolas, nas ruas, no crime e nas drogas em fenômenos em que todos somos vítimas.
Não é à toa que um dos mais importantes temas das manifestações de rua, das novelas, das igrejas, das câmaras e dos tribunais, atualmente, seja o homossexualismo. Tanto para a relação entre o azul e o rosa quanto para a relação destes com as diversas gradações do arco-íris, parece imprescindível que sejamos todos capazes de nos ver como sexos em evolução. É como se, reconhecidos como seres com apenas uma perna e um braço fortes e longos, do lado esquerdo ou direito, finalmente agora voltássemo-nos ao aprendizado da cooperação não hierarquizada, simbolizada no abraço que nos completa, mas também no exercício com o outro para desenvolvermos o lado atrofiado, num movimento de realização e plenificação. 

por Maurício de Araújo Zomignani em Setembro 2013 

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