É quase impossível investigar o cérebro sem fazer um
paralelo com o comportamento sexual humano. Um informe rápido do funcionamento do
órgão dirá que ele reparte suas múltiplas funções entre hemisférios, referindo-nos
a uma camada de quatro milímetros de espessura chamada córtex, responsável
pelas capacidades superiores, que recobre as duas metades. O hemisfério esquerdo
é o da razão, mostra-se apto às relações lógicas em lapsos de tempo, separa as
totalidades abordando uma parte por vez e concentra-se em cada uma mostrando
persistência em acabar o que começou. Já o hemisfério direito, incumbido da
criação, trabalha simultaneamente com unidades conjuntas e com coerência, é
mais flexível, muda facilmente de plano, mostra-se capaz de fazer associações
entre o linguístico e a experiência concreta.
A relação entre os hemisférios é uma ligação densa e
nervosa. Curiosamente o hemisfério esquerdo controla a parte direita e o direito
controla a parte esquerda do corpo. A associação com o comportamento e com a
relação entre os sexos é evidente, mas é importante também perceber a
interdependência e a relação não hierarquizada entre ambos – os hemisférios, é
claro – pois dizem os estudos que os dois lados cooperam de forma tão grande
que, se um deles não funcionar, o outro tem muita dificuldade em aguentar-se. É
possível até ampliar a comparação para perceber o quanto um lado tem se
habilitado às capacidades do outro – os sexos, é claro – especialmente nas
últimas décadas.
Mais ainda, podemos pensar sobre o plano da própria Criação
para os sexos. A absoluta necessidade que um tem do outro – e não apenas para a
manutenção da espécie, como se vê – para os aspectos mais essenciais da vida,
vem se aprofundando com o aprendizado que um proporciona ao outro. Muito mais evidente,
porque rumo ao visível e ao tradicionalmente valorizado, tem sido a habilitação
da mulher ao competitivo, ao objetivo, ao foco que ela precisou ganhar com
saída de casa e a ida ao mercado de trabalho. Apenas agora perceptível, com a
valorização atual dos sentimentos e da subjetividade, a conquista masculina do espaço
artístico, da intuição, das emoções é fronteira que é preciso transpor,
inclusive para que não continuemos a explodir no trânsito, nos estádios, nas
casas, nas escolas, nas ruas, no crime e nas drogas em fenômenos em que todos somos
vítimas.
Não é à toa que um dos mais importantes temas das
manifestações de rua, das novelas, das igrejas, das câmaras e dos tribunais,
atualmente, seja o homossexualismo. Tanto para a relação entre o azul e o rosa
quanto para a relação destes com as diversas gradações do arco-íris, parece imprescindível
que sejamos todos capazes de nos ver como sexos em evolução. É como se,
reconhecidos como seres com apenas uma perna e um braço fortes e longos, do
lado esquerdo ou direito, finalmente agora voltássemo-nos ao aprendizado da cooperação
não hierarquizada, simbolizada no abraço que nos completa, mas também no
exercício com o outro para desenvolvermos o lado atrofiado, num movimento de realização
e plenificação.
por
Maurício de Araújo Zomignani em Setembro 2013
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