Situações
dramáticas estimulam soluções mágicas, nos gabinetes ou nas ruas. Não
podemos esquecer daquele que, diante da inflação galopante e dos planos
fracassados, disse que tinha apenas “uma bala na agulha”, confiscou a
poupança do povo ignorando seus direitos e deixando dezenas de milhões
de brasileiros impossibilitados de fazer frente às suas necessidades
mais urgentes.
Confisco,
Collor, agora recolhimento compulsório de usuários de drogas.
Realmente, entre as muitas situações urgentes do mundo de hoje,
destaca-se a questão das drogas. Há poucas décadas, drogas potentes eram
caras e as drogas baratas, a maconha e a cola de sapateiro, eram
temidas apenas por serem o aperitivo que abria o apetite à cocaína, à
heroína, ao LSD, substâncias de grande impacto no corpo e na mente, mas
cujo preço realmente restringia o uso aos gabinetes, camarins e bares
chiques.
O crack veio mudar isso e o oxi,
agora, radicalizou. À base de cocaína, mas elaborados com misturas que
os tornam muito baratos, ambos potencializam seu efeito através da
ingestão pelas vias respiratórias, o que faz com que as consequências
sejam imediatas e poderosas, lançando os usuários a euforias e
depressões terríveis e a uma dependência imediata. É na síndrome de
abstinência que morrem os usuários porque se violentam e atacam seus
pais, policiais ou traficantes, e nunca por overdose, fenômeno
praticamente inexistente junto aos usuários dessas drogas.
Diante
desse quadro, e das Olimpíadas, a Prefeitura do Rio fez como os
próprios usuários, dramatizou os problemas e optou pela solução mágica:
recolher à força as pessoas que encontra nas ruas e levá-las à
Delegacia, não importa se não são criminosas. Constatado o envolvimento
com drogas, as envia para internação em abrigos, não importa se sem a
menor estrutura para tratamento e, pasmem, sem acompanhamento médico e
psicológico especializado, tudo isso contra a sua vontade, por
determinação de funcionários públicos, não importa se não são juízes.
Não é preciso muito para ter a certeza de que tal medida só é solução, e
por curtíssimo tempo, para quem olha as ruas sem ver as pessoas.
Usuários
e famílias, na verdade, necessitam da decisiva estruturação de uma
política preventiva voltada ao desenvolvimento do jovem, assim como de
uma integração entre especialistas, abrigos, prontos socorros,
hospitais, centros para tratamento ambulatorial, clínicas especializadas
para os que desejarem tratamento e, nos casos de risco de vida, para a
internação compulsória determinada pela Justiça. Casos tão diversos e
complexos não podem mesmo ter uma solução unica. Que se use a mesma
determinação dos heróis de ocasião, mas que essa coragem sirva para
montar grupos de trabalho, sim, mas respaldados por uma rede de serviços
básicos equipados, formados por equipes multidisciplinares, sendo o
respeito à dignidade e à cidadania, de atendidos e atendentes, condição
para qualquer êxito duradouro. Senão, seremos todos nós, pais,
educadores e eleitores que, mais uma vez, iremos passar da euforia
ilusória à depressão.
por
Maurício de Araújo Zomignani em Agosto de 2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário