Durante
décadas aplaudimos a fórmula. A moça boa era enganada por toda a novela
e, ao final, os perversos eram
punidos com prisão, morte ou loucura. Sempre houve personagens bons e
maus, sendo a propaganda da maldade no decorrer da trama quase
neutralizada pela exaltação da bondade ao final.
O sucesso de
Avenida Brasil marca um novo modelo na tevê, assim como
Batman, o Cavaleiro das Trevas, faz no cinema. Ficam longe a
feliz criança alienígena adotada pelo ótimo casal – o Super-homem, bem
como os bons cientistas que sofreram radiação ou mutação – Hulk e
Homem-Aranha. Nem
mesmo há espaço para os inúmeros filmes onde pais de família pacatos
tornaram-se assassinos depois que suas famílias foram trucidadas por
psicopatas.
Popular
hoje é a vingança obsessiva entre doentes. No cinema, Batman e Coringa,
na tevê Carminha e Nina sofreram
aguda vitimização na infância, alternam sintomas de saúde e doença, são
idolatrados e execrados, combatem-se mas preservam-se, conscientes da
sua interdependência. Fazem com que inveja, megalomania, busca pelo seu
reconhecimento e pelo desmascaramento do outro
a qualquer preço, sejam expressão de um desejo difuso por punição,
absolutamente distante de qualquer limite legal, torturados todos por
uma ética dúbia e móvel.
De
um lado trata-se de um enriquecimento do pensamento, pois o antigo
maniqueísmo – onde o Bem só bom combate
o Mal só mau – é irreal e alienante da natureza humana, que é mesmo
multifacetada e variável. Há que se reconhecer que mesmo aquelas pessoas
que se voltam radicalmente à realização ou frustração humana possuem em
si aspectos daquilo a que se opõem, que no
mundo da violência quanto mais se afirma um lado mais se fortalece
outro, como o fazem judeus e palestinos, norte-americanos e árabes,
polícia e crime organizado.
É preciso perceber que a vingança é o mais
eficiente mecanismo de perpetuação da violência por alternar os
protagonistas
na posição de vítimas ou agressores, acorrentando milhões a círculos
viciosos. Crianças violentadas não estão condenadas a serem adultos
violentadores, mas para isso é imprescindível que outro círculo, agora
virtuoso, se estabeleça. Enfermeiras, empregadas,
professores, religiosos, vizinhos, psicólogos, conselheiros tutelares,
assistentes sociais, parentes, médicos e policiais formam extenso
exército que, silenciosa e diariamente, percebe pessoas em sofrimento,
acolhe dores e, de alguma forma, trata feridas,
ajudando milhares de seres que, sem isso, tenderiam mesmo a reproduzir a
violência sofrida.
por Maurício de Araújo Zomignani em Agosto de 2012
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