Não devemos esconder a necessidade de nos revermos com os
escândalos, vergonha é não aprender com eles e repeti-los, o que se aplica
exemplarmente no terremoto que abala os meios de comunicação na Inglaterra.
Rupert Murdoch, um dos maiores empresários do mundo teve descoberta a prática
de um de seus jornais de contratar investigadores particulares, os quais
colocaram escutas ilegais em telefones de pessoas que tiveram, assim, suas
vidas particulares invadidas e divulgadas. O magnata dos jornais repetiu
diversas vezes que foi traído por seus subordinados, mas suas empresas acumulam
acusações há muitos anos, como a de obter notícias corrompendo policiais. É evidente
que há muito encoberto, e é urgente proceder a uma discussão clara sobre o
assunto.
No Brasil mesmo, há um longo histórico de deturpações nesse
campo – como a não divulgação de manifestações pelas Diretas Já pelo Jornal
Nacional, a edição deturpada dos debates entre Lula e Collor, lançado ao país,
aliás, num Globo Repórter sobre o Caçador de Marajás, a atuação da Rede Record
nas frequentes denúncias envolvendo pastores evangélicos e suas malas de
dinheiro – mas seus defensores alegam que são fatos isolados e que a
independência dos meios de comunicação é fundamental à Democracia, citando seu
papel central no levantamento de denúncias, bem
como a evidência de serem os jornais os primeiros a serem fechados pelas
Ditaduras.
Há, no entanto, fatos estruturais que comprometem exatamente
essa independência. Um pecado original no país é o sistema de concessões, moeda
de troca do Governo Federal para controlar o Congresso, o que faz com que milhares
de rádios, diversas retransmissoras e mesmo redes de televisão sejam concedidas
a políticos e a forças poderosas que os sustentam, como é o caso da família
Sarney no Maranhão, Collor em Alagoas, da Igreja Universal que sustenta a Rede
Record, e do Agrobusiness que tanto influencia a TV Bandeirantes. Misturado a esse escândalo das concessões, a relação
das redações com o setor comercial das empresas de comunicação, além de
determinar o tamanho de um jornal e de uma revista, influencia o próprio noticiário,
e não apenas nos cadernos de automóveis e turismo, basicamente material
publicitário sob a aparência de notícia. A inclusão de notícias favoráveis a um
segmento político ou econômico e a injeção sistemática de doações religiosas
numa rede comprometem qualquer noção de liberdade.
Agora o escândalo inglês evidencia outro ponto nevrálgico da
comunicação que é a obtenção das notícias. Até que ponto pode-se pagar a
funcionários de delegacias, produtores de fotos e vídeos caseiros, conceder
notoriedade a aspirantes a celebridades ou, por fim, contratar espiões, o que a
alta funcionária de Murdoch alegou ser prática comum entre os jornais ingleses? Os jornais e organizações efetivamente comprometidos com a
liberdade de imprensa precisam abrir-se à discussão, e a opinião pública
precisa capacitar-se para ela, sob pena de tornamo-nos, envergonhadamente,
meros repetidores de escândalos. E de factóides.
por
Maurício de Araújo Zomignani em Julho de 2011
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