Foi emocionante a esperança da
sociedade diante da repressão promovida no Rio de Janeiro junto a favelas e
bairros pobres, mas foi lamentável a euforia. Não existem soluções simples para
problemas complexos e, como Collor, que afirmou acabar com a inflação com
apenas uma bala na agulha e apenas confiscou nossas poupanças, só assim não chegaremos a resultado
nenhum.
O crime organizado tem como seu
financiador o tráfico, todo mundo sabe. Mas o comércio de drogas, como qualquer
outro, não existiria se não houvesse quem produzisse, transformasse,
transportasse, distribuísse, vendesse, quem consumisse, é óbvio, nem quem o
protegesse com sua ação ou omissão. Como acreditar que se está eliminando um
problema tão complexo reprimindo apenas um dos muitos centros de distribuição,
combatendo esses soldadinhos esquálidos, doentes, analfabetos e violentíssimos,
ou mesmo seus chefinhos de momento?
As drogas deixam em seu caminho um
grande contingente de zumbis. Os zumbis excluídos e suicidas são esses milhares
de jovens recrutados num segmento da sociedade que possui poucas oportunidades,
baixa remuneração e desrespeito a direitos: possuem baixa expectativa de vida
porque pouco esperam da vida. No extremo oposto da escala social, temos os
zumbis doentes ou, se não dependentes, irresponsáveis, que consomem a droga e
financiam toda a rede criminosa. Mas há ainda um terceiro contingente
fundamental, os zumbis morais que, tendo informações, condições ou atribuições
de combater essa rede, se fazem coniventes e protetores ativos de toda essa
hecatombe humana.
Mesmo possuindo dentro de si o
universal instinto de vida, os soldadinhos do tráfico optam pela morte que,
todos sabem, é a contrapartida do dinheiro imediato e do poder social que
adquire quem ingressa nesse caminho. Mas, no imenso segmento do qual se
originam, eles são insignificante minoria. Os consumidores de drogas da classe
média e alta, mesmo possuindo sólidas condições materiais e oportunidades
abertas, optam pela morte que, todos sabem, é o efeito colateral do prazer
alcançado pelas drogas. No ainda restrito grupo social dos incluídos, no
entanto, a massa dos consumidores de drogas não é tão minoritária assim. Os
protetores do crime, desde os anti-cidadãos que não denunciam até aqueles que,
sendo pagos para reprimir, investigar, julgar, optam pelo resultado imediato,
egoísta, fazem-se terrível agravante do problema que deveriam solucionar. E a
sensação que se tem é que, em algumas regiões e instituições, eles são
contingente considerável.
por Maurício de Araújo Zomignani em dezembro de 2010
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