segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

O PIOR GASTO PÚBLICO DO BRASIL

A cena, fortíssima, foi divulgada nos sites de notícias em um vídeo produzido na penitenciária de Pedrinhas, Maranhão, pelos próprios detentos. Uma facção, para punir um adversário, antes de matá-lo, dedicou-se à retirada da pele de um amplo trecho de sua perna, diante do horror do torturado e de quem teve coragem para assistir o vídeo. Cabe ao Estado, claro, a responsabilidade imediata sobre tal barbaridade, mas, na medida em que situações semelhantes existam mesmo no estado de São Paulo, com dinheiro público, e na proporção em que tal sistema nunca foi discutido pela sociedade, quem não estará se sentindo responsável por isso?

Deixadas de lado as ideologias que opõem grupos que se isolam, à direita, na defesa de um Estado omisso socialmente, a título de respeitar a livre iniciativa e o mercado e, à esquerda, na proposta de um Estado centralizador e ineficiente, a título de intervir nas desigualdades sociais – ainda que tais grupos, no poder, tenham desenvolvido práticas frontalmente opostas aos seus discursos –, o fato é que o Brasil vem se defrontando com os resultados do mais eloquente exemplo de mau gasto dos recursos públicos: o realizado no sistema penitenciário.

O mau gasto, é claro, não se deve à quantia de dinheiro destinada ao sistema, R$ 3.312,00 por preso federal, segundo o Ministério da Justiça, mas essencialmente ao seu resultado. O que o detento obtém do sistema penitenciário? É muitíssimo mal tratado pelo Estado, pelos rivais, pela sociedade, não havendo notícias de um programa eficaz de ressocialização de criminosos no Brasil. Aliás, sequer há dados confiáveis, trabalhando os estudiosos com taxas de reincidência em torno de 70% (apontando-se em Portugal, por exemplo, para taxas de 50%). Mas o que a sociedade ganha com nosso sistema penitenciário? A resposta seria óbvia: o afastamento dos criminosos da vida social.

Mas não é bem assim. Se nossas prisões são ambientes estimuladores de monstruosidades que, evidentemente, pioram muito o ser humano, pouco importa quanto se gaste para isso, ainda que as somas totais sejam consideráveis. Cabe promovermos, nesse momento, a certeza de que se trata de uma vingança burra, na medida em que tira das ruas, todos os dias, alguns milhares de seres perniciosos, tortura-os, e devolve, também todos os dias, uma quantidade similar de seres com um grau de periculosidade muito pior do que entraram. Daí provém a inevitável conclusão: este é o pior gasto público possível.

Vamos passar, com as eleições, por mais uma oportunidade fundamental para discutir políticas públicas e é preciso fortalecer a idéia de que, dessa vez, partidos, candidatos e eleitores – assim como técnicos e instituições de ciências humanas – não podem se limitar a discutir quantos presídios serão construídos, mas que avancemos no sentido da criação de uma política pública de ressocialização que respeite os direitos dos presos, diminua a reincidência e recupere o maior número de detentos para efetivamente avançar na missão, urgente, de proteção da sociedade.

por Maurício de Araújo Zomignani em Janeiro de 2014

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